O rio Asma define em grande medida a identidade e a paisagem de Chantada, pois atravessa o território deste concelho de leste a oeste até desaguar no “pai Minho”, onde verte as suas águas. Não é por acaso, portanto, que quatro das freguesias de Chantada fazem referência explícita ao rio na sua denominação (San Fiz de Asma, San Salvador de Asma, San Xurxo de Asma e Santa Uxía de Asma), nem tampouco que na documentação medieval a vila fosse conhecida como A Pobra de Chantada de Asma.
Contudo, o nome deste curso fluvial transcendeu a comarca de Chantada e mesmo a província de Lugo para deixar marca noutros pontos do país. A partir dos gentílicos derivados desta denominação surgiram outros topónimos em zonas mais meridionais, especialmente na província de Ourense, onde se estabeleceram colonos provenientes da antiga Terra de Asma. É o caso do lugar de Armeses, em Maside, documentado em 1312 na cadeia onomástica Domingo Eanes d'Asmeses, que evidencia a sua origem etimológica, ASMENSIS, e cuja grafia atual reproduz o rotacismo próprio da zona.
Outros topónimos muito interessantes que fazem referência a habitantes provenientes desta zona banhada pelo rio Asma são aqueles formados com o sufixo -ANOS e que apresentam uma falsa segmentação que obscureceu a sua origem. Assim, da forma ASMANOS temos em galego os etnotopónimos Asmaos ou Asmaus ‘gente proveniente de Asma’. Mas, por interpretação popular e por analogia com a palavra do léxico comum ‘mao’ (‘man’ no galego normativo), este topónimo passou a escrever-se como As Maus. Denominam-se assim uma freguesia e lugar no concelho de Vilar de Barrio, e duas aldeias nos concelhos de Bande e Rairiz de Veiga, assim como a freguesia e lugar de Muíños chamada As Maus de Salas. Segundo Luz Méndez e Gonzalo Navaza, estes topónimos permaneceram nos manuais de toponímia como formas de origem obscura ou foram atribuídos, como fez Elixio Rivas, a uma origem pré-indo-europeia. No entanto, para estes dois membros do Seminário de Onomástica da Real Academia Galega, não há dúvida da sua ligação ao rio Asma e à Terra de Asma.
A etimologia do topónimo Asma não é fácil de decifrar, embora, como acontece com outros hidrónimos antigos, a sua origem seja pré-latina. A raiz de Asma poderia estar relacionada com a raiz indo-europeia AR-, que significa 'água' ou 'rio', segundo defenderam autores como Dauzat, Deslandes e Rostaing, e também Elixio Rivas. Além disso, é possível que o topónimo inclua o sufixo átono indo-europeu de valor aumentativo –(S)AMA, apontado por Menéndez Pidal e presente noutros topónimos como Masma, Osma ou Ledesma. Segundo Méndez e Navaza, “não existem obstáculos para propor uma evolução desde uma forma ARSAMA, que teria como significado original ‘grande rio’ ou ‘rio caudaloso’”.
Bibliografia
L. Méndez / G. Navaza (2004): “Gentílicos e nomes pessoais na toponímia de Chantada”, em R. Álvarez / F. Fernández Rei / A. Santamarina (eds): A língua galega: história e atualidade. Santiago de Compostela: Consello da Cultura Galega / Instituto da Lingua Galega, vol. 3, 523-532.
Rivas Quintas, E. (1994): Língua galega, níveis primitivos, Laiovento, Santiago de Compostela, 1994
São inúmeras as ocasiões em que, nesta página, aludimos à importância da toponímia para descobrir a história do território que habitamos…
A grande base de dados da toponímia tradicional galega, Galicia Nomeada, já soma mais de meio milhão de topónimos georreferenciados e…