En concreto é a obra póstuma de Luísa Villalta; talvez o grande poema da Corunha, herdeiro de outras obras poéticas que têm como fio condutor a cidade herculina, como Nau enfeitizada, de José María Monterroso Devesa, ou Poema da Cruña, de Xosé Rubinos.
Quando, no dia 24 de Janeiro de 2004, o júri do prémio de poesia Espiral Maior decide, por unanimidade, premiar En concreto fá-lo sublinhando a importância que esta cidade tem ao longo do texto. Uma obra realizada por e para A Coruña, a Cidade Alta, à qual Luísa Villalta empresta a sua voz no “Poema da Cidade Alta” que encerra o livro:
O meu nome é o da Cidade Alta
nacido onde a luz e o mar se están orixinando
mutuamente.
A relação entre Luísa Villata e A Coruña é tão evidente nesta coletânea de poemas que ela mesma é responsável por vesti-la:
Hoxe vestín a Cidade como todos os días
e saín polas rúas procurando un abrigo.
Com estas premissas, podemos afirmar que a toponímia desta obra é uma peça essencial com a qual Luísa Villalta articula o texto do início ao fim. Consideremos que a quarta parte da obra se chama, não por acaso, “Nomes”. Nela, a autora faz uma “unha reflexión lírica de como os nomes se defenden do seu vaciamento de significado”.
O poema abre e termina com duas frases indiscutíveis. Por um lado, a importância dos nomes de lugares nas nossas vidas como guardiões das experiências humanas:
Os lugares gardan instantes humanos nos seus puños fechados:
Por outro lado, a identificação completa dos nomes das pessoas quando encerra o poema afirmando que:
Os nomes somos nós.
Entre essas duas frases que abrem e fecham o poema, a toponímia e a microtoponímia da cidade tornam-se protagonistas. “A cidade recupera a través desta (a toponimia) a memoria e as historias perdidas”, nas palavras de Armando Requeixo na obra Pensar é escuro, edição da poesia de Luísa Villalta de 1991 a 2004.
O poema é uma viagem por toda a geografia da Corunha, de Os Castros a Labañou, desde nomes conhecidos como Monte Alto até microtopónimos da costa, como O Grelle, praia situada perto do Campo da Rata:
Os nomes ansían coñecer
deixar de ser cativos do estandarte
–de tanta tristura-
e reviver no muro mil veces derruído dos Castros
que se volve a levantar con cada amañecida
entoar a pregaria ao deus Arminio alá na ponte do Grelle
onde o mar debulla as maldicións benévolas dos suicidas
e rir como rin en Riazor as riolas de gaivotas
que non poden saír da campa estridulante, ceu doméstico
remontando polo val de Labañou até onde o vento ven do alto
e rube o Peruleiro e segue a aba toda dun confín non estreado
un confín irredutíbel como o que cada carta trai ao lombo
do seu sobre fechado.
Os seixos dos nomes van depositándose moi fondo
no esquecimento do río de Monelos
alí onde ninguén teima desafiar a propria morte
para tráerllelos aos nenos que corren polos bairros
–nenos nenos aínda– e confesar
o cotidianos que nacemos desde que fomos onte
confesar que de verdade os Mallos mallan
que a Gaiteira aínda ven de Agrela asubiando cara ao mar
e no Montealto, no de Outeiro e mais nas Moas
permanecen os ares insepultos que nos foron dando forma
no molde verbal dos ventos que habitamos.
A poesia de Luísa Villalta não se compreende sem A Corunha: “amo esta Cidade tatuada na pétrea pel do mar”.
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