Troncoso e Mondariz Balneario, dous nomes para um município

A história de Mondariz Balneario está intimamente ligada às suas águas e, sobretudo, à Fonte de Troncoso. Em meados do século XIX, aquele lugar era apenas um pequeno bairro com apenas 5 casas habitadas pertencentes à paróquia de Mondariz. A redescoberta das nascentes no monte do Saidoiro e a confirmação das propriedades mineromedicinais das águas mudaram completamente o destino da zona, que acabaria por se transformar num município próprio e numa referência mundial como estabelecimento hoteleiro para o usufruto das suas águas saudáveis.

Embora já no século XVIII existam referências às águas curativas de Troncoso — o escritor Pedro Gómez de Bedoya y Paredes mencionou-as em 1772 na sua Descripción de 54 fuentes minerales del Reyno de Galicia —, só no século XIX foram “redescobertas” e planeado o seu aproveitamento termal. Em 1873, a Fonte de Troncoso foi declarada de utilidade pública, um reconhecimento que permitiu aos irmãos Enrique e Ramón Peinador, que há anos vinham adquirindo terras na zona, impulsionar o seu sonho de criar um balneário moderno.

Esse projeto não esteve isento de dificuldades, como relatou Yolanda Pérez Sánchez na sua tese de doutoramento El balneario de Mondariz. La creación de un lugar (1873-1931), pois os Peinador mantiveram durante anos um duro conflito com o Município de Mondariz pela propriedade das nascentes de Troncoso e da Gándara. A disputa atrasou as obras de melhoria da fonte até que, em 1905, o litígio se resolveu a seu favor. Entretanto, eles e outras figuras influentes da região começaram a defender a ideia de que o bairro deveria ter uma administração própria. Assim, promoveram a criação da Sociedade de Amigos do País de Troncoso-Mondariz, com o objetivo de proteger os interesses locais e promover a separação do bairro em relação ao Município de Mondariz.

Nesse mesmo ano, 1904, deu-se um passo importante para alcançar o objetivo de um município independente: o bispo de Tui atribuiu-lhe um pároco próprio e assim nasceu a paróquia de Troncoso, primeiro sob a invocação de Nossa Senhora do Carmo e, pouco depois, de Nossa Senhora de Lourdes, que continua a ser hoje a padroeira protetora de Mondariz Balneario. Este facto ganhou ainda mais importância quando, em 1924, uma disposição do Governo permitiu que as entidades locais menores se pudessem converter em municípios, especialmente se coincidissem com uma paróquia. A aprovação do Estatuto Municipal de 1924, redigido pelo ministro José Calvo Sotelo, consolidou essa possibilidade. Calvo Sotelo, que visitara o balneário em várias ocasiões e mantinha amizade com os Peinador, foi um dos principais defensores da causa.

Finalmente, em 30 de novembro de 1924, Mondariz Balneario constituiu-se oficialmente como município independente, separando-se de Mondariz. A independência foi confirmada por Real Decreto de 10 de janeiro de 1925 e, pouco depois, em abril desse mesmo ano, o rei Afonso XIII e o general Primo de Rivera concederam-lhe o título honorífico de “Mui Hospitalária Vila de Mondariz Balneario”.

O nome escolhido para o novo município, Mondariz Balneario, foi algo artificial e estranho à toponímia galega: se já é incomum a justaposição de dois substantivos, mais o é o uso do termo balneário, um cultismo tardio que substituiu a forma tradicional galega usada para designar os ‘estabelecimentos onde se pode desfrutar de águas com propriedades medicinais’, banho ou banhos. Veja-se, por exemplo, a instalação situada nas proximidades da Corunha que sempre recebeu o nome de Os Baños de Arteixo.

Nos últimos tempos, alguns habitantes deste município de Pontevedra têm reivindicado a importância da Fonte de Troncoso e o valor que merece para batizar o município em vez deste nome artificial, Mondariz Balneario. O próprio Enrique Peinador considerou esta denominação nas primeiras reuniões em que se discutiu a criação do município. No entanto, acabou por se decidir por Mondariz Balneario devido à associação do novo município à fama de que já gozavam as suas águas.

Quanto à origem do topónimo Mondariz, este deriva do genitivo de um nome pessoal de origem germânica que foi adaptado ao latim como MONDERICUS / MUNDERICUS. Já em galego apresentava as formas Munderigo ou Mondrigo e outras variantes. Segundo Piel-Kremer, este antropónimo bithemático seria formado por um primeiro elemento MUND- / MOND- ‘proteção’ e um segundo elemento germânico –RIKAZ, latinizado como –RICUS ‘poderoso, famoso’. Da mesma origem etimológica provêm outros topónimos galegos bissilábicos como Mondriz (freguesia de Castro de Rei) e Mundrís (aldeia do município da Baña).

Por sua vez, Troncoso é um derivado de tronco (lat. TRUNCUS) ‘tora de madeira, tronco de árvore cortado’ + o sufixo abundancial -OSO, referindo-se a um lugar onde havia troncos de árvores cortadas, uma mata de toras da qual se extraía madeira para construção.

Fontes e bibliografia

Navaza, Gonzalo (2006): Fitotoponimia galega. A Corunha: Fundação Barrié. Biblioteca Filológica Galega do Instituto da Língua Galega

Pérez Sánchez, Yolanda (2005): El balneario de Mondariz. La creación de un lugar (1873-1931). Tese de doutoramento. Santiago de Compostela

Piel, Joseph M. & Dieter Kremer (1976): Hispano-gotisches Namenbuch. Heidelberg: Carl Winter
 
 

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