A relação entre os brasões dos municípios e a toponímia é muito estreita. Ambos atuam como símbolos do território: enquanto o topónimo dá nome ao lugar, o brasão oferece-lhe a imagem. Funcionam, portanto, como sinais de identidade que, em muitos casos, se inter-relacionam entre si. Alguns brasões municipais vão mais além e incorporam elementos gráficos que representam a interpretação popular do significado do topónimo; são as chamadas “armas falantes”.
Cervantes é um bom exemplo disso, pois no seu brasão aparece um castelo que simboliza a fortaleza de Doiras e umas montanhas que recordam cumes como O Mustallar ou Os Tres Bispos, picos destacados e bem conhecidos em toda a serra dos Ancares. O elemento mais salientável das armas de Cervantes é um veado dourado, numa clara alusão ao nome de todo o município. Mas será Cervantes um zootopónimo que faz parte da ampla família lexical deste ruminante, da qual fariam parte outros nomes de lugar como Cerval ou Cerveira?
Frei Martinho Sarmiento, o grande intelectual iluminista, é um dos responsáveis por esta interpretação etimológica ter gozado de tanta difusão na Galiza. Segundo o monge beneditino, “Cervantes, Cerveyro, Cerveyra, Cervaña, etc., vienen de CERVUS”.
No entanto, a investigação filológica considerou que este vínculo era mais uma etimologia popular do que uma realidade possível. O próprio José Luis Pensado Tomé, editor da obra do religioso beneditino, expressou as suas dúvidas sobre esta hipótese ao afirmar que “ni siquiera tiene sentido el uso de -antes en un sintagma con cervus”, para depois indicar o caminho para chegar à interpretação atual do topónimo: “lo más probable es que se trate de un topónimo prelatino”.
Esta via foi seguida por Moralejo Álvarez: no seu artigo sobre os “Topónimos célticos en Galicia” sugere que um ““nombre tan ilustre como CERVANTES (...) derive de *kerbo”, uma raiz que teria o significado de ‘em forma de ponta’, em alusão ao relevo montanhoso deste município lucense.
A presença de formas semelhantes em cursos fluviais, como os rios Cerves, levou também outros autores, nomeadamente Edelmiro Bascuas, a relacionar este topónimo e outros, como Cervo e Cerveira, com uma raiz pré-latina, mas neste caso com valor hidronímico, relacionado com a presença ou abundância de águas.
No caso do Município de Cervantes, os dois significados destas raízes pré-romanas encaixam com a orografia deste concelho, pois existem dezenas ou centenas de correntes de água que descem por cada um dos vales do seu território, bem como muitos montes e outeiros com cumes pontiagudos.
Como já referimos em várias ocasiões nesta página, a etimologia popular é um fenómeno linguístico muito interessante…
Entre os máis de 500 lugares hasbitados que forman o concello da Estrada hai un só existe neste municipio: Matalobos…