As lavadeiras desempenharam um ofício fundamental no país até bem avançado o século XX. São icónicas as fotografias destas mulheres nas margens dos cursos fluviais ou nos lavadouros próximos das vilas e cidades, dobradas sobre a pedra ou nas ribeiras a lavar a roupa própria ou de outras famílias por encomenda. Uma atividade dura, sem dúvida, mas também um espaço de socialização: enquanto lavavam, as mulheres conversavam e, claro, também cantavam, sendo por isso transmissoras de uma parte da nossa literatura popular que em 2025 foi celebrada em grande no Dia das Letras Galegas.
Símbolo do esforço e do trabalho feminino, a figura das lavadeiras é lembrada por todo o território galego. E, como não podia deixar de ser, a sua atividade também deixou marcas toponímicas: nomes como o Río das Lavandeiras ou o Lavadoiro das Lavandeiras indicam-nos claramente o local onde estas mulheres exerciam a sua profissão. Mas será que todos os lugares chamados A Lavandeira no nosso país têm essa mesma origem? A resposta, como veremos de seguida, não é assim tão simples.
O topónimo Lavandeira, presente, com artigo e no singular, no concelho ourensano de Sandiás e com formas semelhantes noutras 39 localidades galegas, foi alvo de diversas interpretações etimológicas por parte de vários especialistas. Assim, Joseph Piel considerou-o um topónimo derivado diretamente da ação de lavar, hipótese que também coincide com o significado mais intuitivo que este nome pode sugerir e que referimos no início deste artigo.
Por sua vez, Elixio Rivas Quintas aponta para outra origem: na sua obra sobre a Toponimia de Marín, inclui A Lavandeira, nome de terrenos na freguesia de Macenlle regados pela ribeira da Lavandeira, como um hidrónimo derivado de uma raiz pré-romana *n - b ‘água’. Asegura que desta raiz provêm, entre outras, a palavra castelhana nava ‘planície entre montes’ e outros topónimos galegos como Navallo, Navalliño... Segundo esta hipótese, Lavandeira teria sido originalmente *Navandeira, alterado posteriormente por semelhança com o verbo galego lavar.
Gonzalo Navaza não descarta esta hipótese, mas considera que Lavandeira é “um hidrónimo que costuma designar locais onde um curso de água transborda facilmente e inunda os arredores”. Para este autor, a sua etimologia “provavelmente está relacionada com o verbo latino LAVARE, com o substantivo pré-romano nava ou com ambos”.
Com estas interpretações em cima da mesa, tudo parece indicar que o topónimo Lavandeira de Sandiás refere-se a um local alagado em certas épocas do ano por um curso de água ou, como confirmaram os vizinhos presentes na palestra Toponimízate, pela própria Lagoa de Antela, que mudava de forma ao longo do ano consoante a quantidade de água que continha.
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Bibliografia
Navaza, Gonzalo (2007): Toponimia de Catoira. Catoira: Concello
Piel, Joseph M. 1945. “As Águas na Toponímia Galego-Portuguesa”. Boletim de Filologia VIII, 305-342
Rivas Quintas, E. (1982): Toponimia de Marín. Santiago de Compostela: Universidade
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