Meiras, além do paço

Se ouvirmos ou lermos o topónimo Meirás, é bem possível que a nossa mente evoque automaticamente uma imagem: As Torres de Meirás. Esta construção é um dos palácios mais singulares de todo o país não só pela sua construção, mas também pela sua história: construída no final do século XIX pela escritora Emilia Pardo Bazán nas terras da sua família, a chamada de Granxa de Meirás, passaram para as mãos do ditador Francisco Franco após um aparente processo de venda que, quase 80 anos depois, foi declarado nulo pelo Tribunal de Primeira Instância da Corunha. Desta forma, o Pazo de Meirás passou a fazer parte do património do Estado no dia 2 de setembro de 2020 após uma longa disputa e a reivindicação histórica dos moradores da freguesia, muitos deles herdeiros das pessoas expropriadas para a expansão das terras do Paço. Anteriormente, a Xunta da Galicia já o tinha declarado Bem de Interesse Cultural, o nível máximo de proteção para um bem deste tipo e que implica, entre outras coisas, a sua consideração como domínio público.

Se a história do paço de Meirás está amplamente documentada, não é tanto a do seu nome, Meirás, topónimo que também está presente como nome de uma das freguesias do concelho de Valdoviño. Deste Meirás de Valdoviño são os mais antigos testemunhos escritos que hoje temos deste topónimo: num documento do mosteiro de Xuvia, datado de 1171, é mencionada a "ecclesia sancti Uicente de Meiranes". Alguns anos depois, num documento do mosteiro de Sobrado de 1192, é feita referência a um "Fernandus andador de confraria de Merianes (1192)". Já no século XV, um "Sant Viçenço de Meiraas" mostra-nos a antiga solução em romance, com a perda do intervocálico -n-, passo prévio do atual Meirás.

Mas qual é o significado destes Meirás? Cabeza Quiles e outros autores relacionaram-no com uma base linguística pré-indo-europeia M'R-, com o significado de 'auga, manancial', teoria aceita pelos pesquisadores. Nas imediações de ontem localizava-se a antiga igreja de San Martiño de Meirás, hoje desaparecida, ainda hoje nasce um pequeno ribeiro que verte as suas águas no sistema de rega de Fontoira, o que nos permite corroborar esta hipótese.

Apesar de Meirás estar apenas registado como nome das duas freguesias referidas, a base *M'R- tem alternância vocálica, *MAR-, *MER- e *MIR-, pelo que tem gerado muitos outros topónimos no nosso geografia com a qual está relacionado: Meira, Meiro, Meirol ou Mera.

Meirás seria assim mais um hidrotopónimo do concelho das sete fontes: Fonte Grande, Fonte Nova, Fonterrota, Fonte Boa, Fonte da Vila, Fontán e Fontoira são os nomes de sete povoações de Sada. Outros nomes relacionados com a água em Sada podem ser Mondego, também o nome de um rio em Portugal que tem sido explicado como um hidrónimo pré-romano que se refere à água; ou ainda Soñeiro, possivelmente relacionado com Sóñora, para o qual Juan José Moralejo aponta uma origem na raiz hidronímica indo-europeia *SEU- 'húmido' ou *SEU- 'dobrar, virar'.

 
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