As possíveis origens de um topónimo enigmático, Soesto

Os avanços que a investigação toponímica viveu nas últimas décadas são indiscutíveis: o desenvolvimento dos métodos científicos, o acesso a fontes primárias, o trabalho multidisciplinar e outros fatores contribuíram para ampliar os límites de conhecimento sobre os nomes de lugar. No entanto, apesar disso, não são poucos os topónimos que continuam a ser verdadeiros enigmas para os especialistas na matéria; Soesto é um deles.

Soesto é o nome de uma freguesia do concelho corunhês de Laxe e de duas entidades de povoação dentro dela, Soesto de Arriba e Soesto de Abaixo. A menção mais antiga que recolhe o corpus de documentos latinos da Galiza é do século X: aparece como Solesto num documento do mosteiro de Celanova. Esta atestação, com -l- intervocálica, pode ser chave para nos aproximarmos da sua origem, pois graças a ela alguns investigadores viram na primeira sílaba do topónimo uma variante da raiz prerromana hidronímica *Sor- / *Sar-, da qual procedem outros topónimos galegos como Serantes ou o rio Sar. A presença de um curso fluvial que atravessa toda a freguesia serviria como base para sustentar esta tese.

Outros autores, pelo contrário, julgaram que o primeiro dos elementos que formam o topónimo é a preposição latina SUB ‘debaixo de’, com abundante presença em topónimos galegos como Somoza (< lat. SUB MONTIA), Somonte (< SUB MONTE), Soneira (< SUB NERIA)...

Também não existe unanimidade entre os investigadores sobre o segundo dos elementos que poderia formar este topónimo, -esto ou -oesto. Paulo Martínez Lema defende que o componente sufixal “parece ser o mesmo que podemos isolar” noutros topónimos como Corcoesto e O Esto, “todos eles alusivos, segundo vemos, a entidades de povoação geograficamente muito próximas entre si”. Mas deixa por resolver a dúvida do seu significado.

Ao trio de topónimos que acabámos de ver, Corcoesto, O Esto e Soesto, podemos acrescentar um quarto foneticamente semelhante, Oeste, localidade do concelho de Catoira, que Gonzalo Navaza explica como descendente do antropónimo latino HONESTUS através do seu genitivo, (VILLA) HONESTI. Na documentação do mosteiro de Oseira regista-se uma “leyra d’Oesto” (ano 1269) que parece conter este nome pessoal, o que nos serviria para explicar Soesto como um antropotopónimo.

O próprio Gonzalo Navaza acrescenta uma terceira proposta para este Soesto que o relacionaria com o termo latino AESTUS ‘maré’, vínculo que encaixaria perfeitamente com este lugar da Costa da Morte. No entanto, existe um obstáculo para lhe dar total validade a esta hipótese: aestus deixou pouca marca nas línguas românicas, salvo em termos como esteiro ou estuário.

Talvez seja uma recordação de um nome de rio prerromano, talvez uma derivação de um antropónimo latino ou talvez uma rara sobrevivência do termo aestus. O que sabemos com certeza é que Soesto é um lugar único em toda a Galiza.

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