O Vieiro: um topónimo relacionado aos caminhos ou à mineração?

Nesta secção falamos frequentemente de topónimos transparentes ou opacos: os primeiros seriam aqueles cuja forma coincide com palavras galegas comuns, de fácil compreensão para qualquer falante da nossa língua; o segundo seriam os opostos, nomes que nos são obscuros porque não correspondem a nenhuma palavra do léxico comum. Porém, é preciso sempre ter cuidado porque existem muitos falsos amigos na toponímia e, às vezes, as coisas não são o que parecem. O topónimo O Vieiro, aldeia do concelho de Vilar de Santos, pode ser um desses casos. 

Com toda a probabilidade, muitos dos vinte e um lugares que hoje existem na Galiza chamados Vieiro ou Vieiros, com ou sem artigo, podem ser explicados a partir da mesma voz galega comum, que tem o significado de  ‘camiño estreito formado a forza de pasaren por el a pé persoas e animais’, segundo o Dicionário da Real Academia Galega. Este “vieiro” vem da forma latina VIARIUM, derivada do termo clássico VIA ‘caminho, vereia.

Agora, dois dos principais especialistas em toponímia galega, Edelmiro Bascuas e Gonzalo Navaza, colocam a lupa neste topónimo para ver além do que parece à primeira vista. Assim, os dois autores argumentam que os caprichos da evolução fonética do latim para o galego levariam à coincidência formal entre os derivados romances de VIARIUM que acabamos de ver e um hipotético *VENARIUM, vindo do latim VENA com o significado de ' veio ou veio de ferro' ou água'. Assim, alguns destes topónimos de Vieiro que encontramos por toda a Galiza poderão ser motivados pela existência de jazidas subterrâneas de um material muito importante no mundo tradicional, o ferro, ou mesmo pela presença de veios de água subterrâneos.

Para saber qual destas hipóteses etimológicas poderá ter motivado o topónimo de Vilar de Santos, devemos ter em conta se aqui existiu algum tipo de exploração mineira de ferro, se existem veios de água subterrâneos ou se existiu uma antiga vereia ou caminho real que passasse por este lugar. O facto de existirem outros topónimos de estradas muito próximas, como Parada, A Venda ou A Ponte, e de a casa do Museo Etnográfico da Limia ter sido outrora um hospital de peregrinos, inclina a balança para a ideia de que esta via indique a passagem por estas terras de um antigo caminho que poderá ter sido uma variante desaparecida da rota de peregrinação jacobina a Compostela.
 

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