Modesto García é reconhecido pela doação de 8.000 topónimos ao projeto Galicia Nomeada

Modesto García Quintáns sempre gostou de caminhar pelo monte. Quando jovem, estudava no antigo instituto laboral de Cee, percorria todas as manhãs os 9 quilómetros entre a sua casa, na freguesia de Buxantes, em Dumbría, e a escola que acabava de abrir. “Saía cando aínda era noite do lugar de Vilar, e non era raro que me atopase o lobo”, recorda. Já aposentado, o engenheiro topográfico voltou a percorrer as estradas de Dumbría, desta vez palma a palma, com um objetivo claro em que aliou profissão e paixão: completar o mapa topográfico do seu município. “Coñezo todo o territorio como se fose a miña casa. Recorrín todos os regatos, rexistrei as leiras, os muíños, as fontes... e tamén mámoas e outros restos arqueolóxicos”, resume. A obra envolve mais de 8.000 microtopónimos georreferenciados que constituem material documental de enorme valor cultural e de interesse para a investigação que será doado à Real Academia Galega para inclusão no grande banco de dados toponímicos da Galiza, a plataforma colaborativa Galicia Nomeada.

A Real Academia Galega e a Xunta de Galicia, responsável pelo Galicia Nomeada, agradeceram a doação numa homenagem realizada esta tarde no Centro Social de Dumbría. O presidente da RAG, Víctor F, Freixanes, e o secretário-geral da Língua, Valentín García, entregaram-lhe um diploma de reconhecimento “polo agasallo que fai á cultura de Galicia” com a sua doação num evento em que o presidente da câmara de Dumbría, Raúl González Lado, também participou.

Após a entrega dos microtopónimos, os filólogos do Seminario de Onomástica da Real Academia Galega irão rever e validar todos os nomes para os poder incorporar no Galicia Nomeada, projeto centrado na recuperação da microtoponímia do país com a colaboração intergeracional de milhares de voluntários que contribuem a partir do seu território mais próximo, mesmo familiar, com os nomes de chousas, ribeiros, penhascos, leiras ou devesas que correm o risco de se perderem.

Funcionário do Instituto Geográfico Nacional, depois de trabalhar em Valladolid, no final dos anos 70 Modesto García Quintáns juntou-se à nova delegação galega da entidade dependente do Governo de Espanha, sediada na cidade da Corunha. O seu trabalho consistia, basicamente, em percorrer a Galiza para atualizar o rosto do país com os últimos avanços na área. “Traballei moito na rede xeodésica, na instalación dos puntos nos montes que permiten logo trazar a cartografía, e tamén na actualización do mapa topográfico de Galicia”, recorda o engenheiro, que se distinguiu pela suas contribuições nesse período com a Cruz de Oficial da Ordem de Isabel a Católica. 

Mas, além das obrigações profissionais, ciente dos erros com os nomes das agras e leiras que costumavam ocorrer nos registos para o Cadastro e o emparcelamento, Modesto passou a recolher e georreferenciar os microtopónimos do seu município natal, para o qual contou com os moradores como informantes. “Doíame moito ver como no proceso da concentración parcelaria se puñan os nomes na cartografía sen ton nin son, con formas mal recollidas e tamén fóra da súa situación real. Nos mapas daqueles tempos un rótulo dun nome longo podía tapar uns lindes e non era raro que o delineante acabase movéndoo sen xeito. Á escala, uns centímetros poden ser centos de metros. Cando se expuña todo para as reclamacións, os veciños non se fixaban nos nomes, só nos ferrados, e por iso hoxe nos planos do Catastro hai tantos erros”, afirma. Práticas deste tipo explicam – comenta como exemplo – que se esteja a chamar Chan das Lagoas ao alto onde foi instalado o radar de seguimento marítimo do Centro de Coordenação de Salvamento Marítimo de Fisterra, a 530 metros acima do nível do mar, num lugar “que nin é nin foi plano, nin ten lagoas”

Quando se aposentou, em 2008, intensificou-se a atenção que sempre prestou ao território de sua infância e às suas manifestações culturais. Modesto começou a percorrer sistematicamente metro a metro todas as aldeias de Dumbría para completar o seu mapa topográfico, recolhendo milhares de nomes de quintas ou rios, mas também de moinhos, celeiros ou túmulos pré-históricos. Às vezes, estes passeios eram feitos na companhia do historiador Fernando Alonso Romero, interessado no património arqueológico, e complementavam as informações recolhidas oralmente com farta documentação consultada em bibliotecas e arquivos, avalia o topógrafo, que em 2009 publicou um livro sobre a história, tradições e costumes do município de Dumbría que aguarda para ser republicado.

A base de dados que o topógrafo e divulgador entrega à RAG também contém os oicçonimos de Dumbría, nomes das casas do município pelas quais eram conhecidos seus habitantes. “Este traballo fíxeno nos anos 60. Cando se instalou o teléfono en todas as aldeas do concello, Telefónica publicou unha listaxe cos nomes e apelidos dos veciños, pero a xente coñecíase entre si sobre todo polos nomes das casas. Daquela eu completei esa lista cos alcumes familiares e rexistrei nun plano as coordenadas de cada casa”, refere. 

A sua é a Casa dos Modestos. “Chámase así polo meu avó. Emigrara ao Brasil e regresou con certa posición económica. Daquela pedíanlle moito que apadriñase cativos, que sempre se chamaban Modesto, coma min. Se cadras con algún Modesto en Dumbría, algunha relación coa miña familia ha ter”, sublinha.

Modesto García Quintáns era, em todo caso, um menino de aldeia: “Son fillo de labradores. Cando era estudante tiña que ir igualmente coas vacas ao prado ou a apañar a herba”. Um filho da terra onde cresceu que hoje devolve a imortalidade a um dos seus tesouros mais preciosos que é o rico património imaterial dos nomes da terra, criado pelos antepassados e transmitido durante séculos, geração após geração.

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